Nos últimos dias, senti na pele, ou melhor, na pele dos meus pacientes os problemas de saúde, em particular as alterações circulatórias, decorrentes das temperaturas elevadas que estão castigando de maneira ininterrupta nossa população e nossa região.
Dois pacientes que atendi recentemente chamaram minha atenção devido a ansiedade e o sofrimento demonstrado durante a consulta, a gravidade do problema de saúde apresentado e a necessidade de intervenção médica imediata, até mesmo com tratamento cirúrgico de urgência.
O primeiro paciente refere-se a uma mulher jovem, vendedora, que costuma utilizar o transporte público para locomover-se de sua casa até o local de trabalho. Aparentemente nervosa e com semblante fechado, caminhou com dificuldade até meu consultório, mancando a perna esquerda. Durante a consulta, queixou-se de muita dor na perna, inchaço e dificuldade para andar. Sem antecedentes pessoais dignos de nota, relatou como única mudança importante em sua rotina o fato de ter perdido o transporte público e, por motivos pessoais, ter optado por caminhar de sua casa até a loja aonde trabalha, sob a temperatura de 41 graus.
Suando muito durante o trajeto e não referindo consumo de líquidos, chegou ao seu emprego e trabalhou normalmente. No final do expediente, sentiu a perna esquerda pesada e inchada. Não valorizou seus sintomas. Pegou carona com uma colega de trabalho e foi para casa. A noite, no mesmo dia, a dor na perna piorou, exigindo injeção analgésica e anti-inflamatória na farmácia para melhorar o quadro doloroso
Dormiu com dificuldade e, logo cedo, faltou no trabalho para ser atendida em meu consultório. Diagnóstico: Trombose Venosa Profunda extensa devido desidratação com necessidade de tratamento imediato e risco elevado de embolia pulmonar.
O segundo paciente refere-se a um jovem garoto, trabalhador, proveniente de família religiosa e amigo desde a infância, que sofre com as sessões de hemodiálise. Está na lista de espera para transplante renal, mas devido a pandemia ainda não conseguiu efetuar seu tratamento. Geralmente sua pressão abaixa após a hemodiálise, mas infelizmente, na última sexta feira, sua pressão caiu acima do normal, horas após a sessão de hemodiálise. A temperatura que atingia 40 graus exacerbou a fraqueza, o cansaço e sua pressão não resistiu. Resultado: Trombose da fístula, que constitui um acesso para quem precisa realizar hemodiálise.
A tristeza estampada em seu olhar pela perda do acesso era notável uma vez que a fístula representava uma forma de desintoxicação orgânica. Tentamos salvar a fístula, mas apesar da força de vontade do paciente e do esforço da equipe médica, não alcançamos o êxito esperado. Para oferecer um acesso que permitiria manter as sessões de hemodiálise, optamos por instituir um novo cateter venoso.
Na maioria das vezes, a correria do dia a dia não permite que tenhamos atenção adequada a nossa saúde. Sentimos os efeitos do calor excessivo e com o intuito de amenizá-los ligamos o ar condicionado e vestimos roupas mais arejadas, entretanto, estas medidas não são suficientes para controlar os efeitos da temperatura elevada em nosso organismo.
Sintomas como dores nas pernas, inchaço, dor no peito, fraqueza e queda de pressão devem ser valorizados. O atendimento médico deve ser uma prioridade neste período quente uma vez que o calor excessivo predispõe a trombose e a fenômenos embólicos em nossa circulação.
O Cirurgião Vascular é o profissional ideal para ajudá-lo neste período de estiagem. Mantenha-se hidratado e procure-o! A trombose venosa decorrente das altas temperaturas pode evoluir com complicações indesejadas caso não diagnosticado e tratado adequadamente.
Se houver dúvidas, consulte meu site (www.drsthefanovascular.com.br) e mantenha-se informado sobre importantes aspectos associados a saúde vascular.